DEVOÇÃO À SANTÍSSIMA TRINDADE

E MISSA CANTADA DO CÉU

 

 

João Leão Dehon

Devoção à SS.ma Trindade

Durante longo tempo encontrei muitas dificuldades em honrar e amar a SS.ma Trindade. Queria perscrutar este mistério. Agora esta devoção parece-me muito simples, fala-me ao coração. É preciso considerar distintamente as pessoas.

O Pai é o meu Criador, o autor e o conservador da vida. A Ele devo-Lhe tudo. Ele é muito mais meu Pai que aquele que a família me deu. Ele é mais amante, mais fiel, mais amigo. Quero amá-l’O com todo o coração, com simplicidade, até com familiaridade; confio na sua providência, na sua misericórdia.

O Verbo, Filho de Deus, primogénito, é o meu irmão mais velho, tanto mais amante, quanto mais amigo! Fez-se homem para ser ainda mais intimamente meu irmão para me salvar do naufrágio, para sofrer e morrer por mim. Amo o meu irmão mais velho; quero escutá-l’O, segui-l’O, imitá-l’O... quero viver sempre com Ele.

O Espírito Santo é o meu divino director. Tenho sempre amado os meus directores; quanto mais não devo amar o Espírito Santo, de quem eles não são senão uma sombra. Quero consultá-l’O, sempre filialmente e seguir os seus conselhos (NQ 1916-XL/80-82; O. Sp. V, p.318)

Gosto cada vez mais da devoção à SS.ma Trindade. Deus Pai, é meu Pai e meu Criador. Ele é meu Pai mais que aquele que tive na terra.

Devo-Lhe tudo, o ser e a vida. Amo-O extremamente e muito filialmente, quero a sua glória e o seu reino. O Filho de Deus tornou-se meu Irmão pela Incarnação. Deu a sua vida por mim, vem a mim na Eucaristia. Amo-O sem medida, inclino-me incessantemente sobre o seu ombro como S. João, quero viver com Ele e amá-l’O sempre mais. O Espírito Santo é meu director, meu guia, a alma da minha alma e como uma mãe para mim. Quero viver com Ele, escutá-l’O em tudo e mostrar-me seu discípulo amante e fiel. O Glória ao Pai e o Credo são homenagens à SS.ma Trindade (NQ 1925-XLV/16; O. Sp. V, p. 538).

A Missa cantada do Céu

A oração deste último período da minha vida. Saúdo a SS.ma Trindade, meu Pai e Criador; o Verbo de Deus que se fez meu irmão e meu Redentor; o Espírito Santo que se tornou meu guia e meu consolador.

Participo na missa cantada do céu: Jesus oferecendo-se a seu Pai, o Cordeiro imolado desde o princípio; o Coração de Jesus, vítima de amor para glória de Deus e salvação dos homens.

Cada missa tem o seu Communicantes: uno-me aos sete anjos privilegiados, a todo o ambiente celeste; aos vinte e quatro anciãos, aos patriarcas e aos profetas, aos quatro evangelistas e aos apóstolos.

Uno-me aos amigos de Jesus: amigos de Belém...

... Uno-me a todos os fundadores, aos santos do Sagrado Coração... a Gertrudes, aos nossos Padres e às nossas Irmãs...

A missa tem as suas intenções: rezo pela Igreja e suas grandes necessidades actuais, pela união e retorno dos hereges e cismáticos, pelas missões. Rezo pela França e pelas nações cristãs, pela Obra; pelas nossas Irmãs, pelos nossos Irmãos, pelos nossos rapazes, pela obra de Roma. Rezo pelos meus parentes e amigos, por mim mesmo. Rezo pelos defuntos; com Jesus, Maria e José, dou uma grande volta pelo purgatório.

Depois de me ter unido à missa cantada do céu, saúdo Jesus Salvador: nos mistérios da sua infância com os seus amigos de Belém, Maria, José, os pastores, os reis, Ana, Simeão, etc.; nos mistérios da sua vida pública com os apóstolos e os discípulos; nos mistérios da sua paixão e da sua morte, com Maria, João e Madalena...

Saúdo Maria com S. Gabriel e S. João. Saúdo-a em todos os seus mistérios.

Saúdo S. José por Jesus e Maria, e convido-o a vir ajudar-me na minha morte.

Saúdo os santos anjos, meus padroeiros e todos os amigos do céu, onde tenho tantos parentes e amigos: minha mãe, meus directores, meus santos protectores, condiscípulos...Não devo esquecer a Irmã Maria de Jesus que ofereceu a sua vida por mim...

Esta é a essência da minha oração, com variantes quotidianas...

Penso continuamente no céu, vivo com os meus protectores e amigos de lá de cima, morro por vê-los em breve: Cupio dissolvi et esse cum Christo (Cf Fil 1,23).

Poderia isto ser, porventura, uma ilusão e podia eu perder o meu céu? Não creio. Sagrado Coração de Jesus, confio em Vós.

Uno-me muitas vezes aos grandes penitentes: Adão, David, Pedro, Paulo, Madalena, Agostinho. As suas reparações foram superabundantes; unindo-me a eles obterei mais facilmente misericórdia, fiz tantas tolices na minha vida.

Compro jornais para a comunidade, parece-me coisa boa estar a par da história contemporânea e ter algum assunto de conversa. Reza-se melhor pela Igreja quando se lê as investidas por que passa todos os dias e os valentes esforços que fazem os católicos para se organizarem (NQ 1925-XLV/11-16; O. Sp. V, pp. 536-538).

Os dois “communicantes”

Sou o menor e o mais indigno dos fundadores, apesar disso, sinto a necessidade de me unir a todos os fundadores. Os seus nomes reaparecem-me na oração.

Bento, Bernardo, Francisco, Domingos, Inácio, Néri, Francisco de Sales, Vicente de Paulo, Afonso, J. B. de la Salle, João Eudes, Paulo da Cruz, Libermann, D. Bosco, Lavigerie, d’Alzon, Margarida Maria, Sofia Barat, Mãe Verónica, Maria do Sagrado Coração, etc...

Estas grandes almas tinham um ideal sublime: ganhar o mundo, conquistar o mundo para Jesus Cristo. Elas rezaram, sofreram e trabalharam para tal...

Uno-me quotidianamente a todas estas almas. Quereria elevar o meu ideal à altura do deles. Amo ardentemente Nosso Senhor e quereria obter o Reino do Sagrado Coração...

Tenho ainda um outro communicantes: são os meus primeiros confrades, os meus mais dedicados auxiliares para a obra do Sagrado Coração. Foram uma dúzia como os apóstolos...

Uno-me, também, todos os dias, aos santos do Sagrado Coração: Gertrudes, Matilde, Marta, Maria, o Padre de la Colombière, etc... e os nossos cem mortos da congregação, e mais ainda os das nossas Irmãs.

O meu ideal foi o deles, trabalhámos para o reino do S. Coração (NQ 1925-XLV/2-4; O. Sp. V, pp. 533-534).

(Tradução do Pe. José Vieira Alves, LU)