TESTEMUNHOS

DOIS TESTEMUNHOS PESSOAIS

Autores vários

James Hoerter (Missionários Leigos do Sagrado Coração)

De que modo o sr. veio a conhecer o amor de Cristo, mostrado através de seu coração, antes de entrar para os Missionários Leigos do Sagrado Coração?

Foram muitas as manifestações do amor do Coração de Jesus para mim antes de entrar no grupo. Poderia dizer que o amor de meus pais foi um sinal deste amor de Deus, os sacrifícios que eles fizeram por mim. Depois teve a minha experiência de Igreja que se somou à experiência do lar. A educação que recebi nas escolas católicas, desde o jardim da infância até a faculdade, todos ali mostrando dedicação e interesse especial por mim, buscando mais o bem espiritual do que a compensação material. Teve ainda meu envolvimento anterior, com os voluntários jesuítas, que mostrou-me a mesma coisa a partir dos leigos. Vejo o Coração de Jesus claramente nos corações desapegados das pessoas que se doam a si mesmas dentro da Igreja.

O que atraiu-o aos Missionários?

Primeiramente o que me chamou a atenção foi uma publicação chamada National Catholic Reporter, que me fez refletir seriamente. Eu lecionava em Nova York e estava interessado na pastoral da juventude e dos índios. Na revista falava-se desta possibilidade. Telefonei e recebi resposta imediata. Fui entrevistado, fiz o curso de preparação em Hales Corners, no Instituto de Teologia Sagrado Coração.

Quando o sr. ouviu falar de Pe. Dehon o que mais lhe chamou a atenção, que luz trouxe para a sua vida?

Acho o amor ao Sagrado Coração muito confortante. Convida a empenhar-se na construção do Reino de Deus. Percebe-se um ideal na teologia de Pe. Dehon, e há sentimentos que nutrem este ideal. Eu me interesso por aspectos relativos à justiça social. Dorothy Day e Oscar Romero estão entre meu heróis. De modo igual vejo em Pe. Dehon um homem que tentou fazer alguma coisa a respeito do que ele via e moldou um modo de ser católico nas ações concretas em prol dos menos favorecidos. Uma das suas frases que mais me agradam é: “O Coração de Jesus está repleto de compaixão por aqueles que sofrem.....ele tem um coração de pastor....” Tive a oportunidade de refletir sobre estas coisas e outras no retiro feito com os Missionários e muito me tocaram. P. Dehon foi um homem humilde, consciente das condições de seu tempo e conseguia interpretá-las à luz do evangelho.

Poderia descrever a proposta dos Missionários Leigos do Sagrado Coração?

O Pe. Tony Russo é nosso assessor. Quando eu entrei o encarregado era Ron Zeilinger. Fui convidado a entrar para a comunidade de Eagle Bute embora não fosse dehoniano. Acho que passei a ser um membro “afiliado dehoniano”, uma organização leiga sob o carisma de Pe. Dehon. Nosso programa sofreu algumas mudanças então. Eu trabalho aqui, na pastoral com os índios da reserva Cheyenne.

Que contatos o sr. teve com outros membros da Família Dehoniana, especialmente com os SCJ. Isto te influenciou?

Eu vivo numa comunidade de SCJs, com Pe. Don Bard, Ir. Frank Presto e o Pe. Tom Westhoven. Tive ainda a oportunidade de encontrar e conhecer outros dehonianos no Instituto de Teologia de Hales Corners, onde fiz alguns retiros. Sinto o apoio deles através do provincial, Pe. John Czyzynski. Além dos dehonianos que vivem comigo tem os de Chamberlain, Pierre e Lower Brule que mantêm contato frequente conosco. Sinto-me bem em participar de várias atividades dos dehonianos e sinto-me apoiado por eles. O Pe. Tony Russo é nosso atual assessor e nós o encontramos várias vezes por ano, nos retiros e nas reuniões. Todos estes contatos fazem-me crer que eu disponha de uma riqueza muito grande que devo aprofundar. Passo a entender o que significa ser católico, sei o que é a vida religiosa, experimento-a, embora sem estar comprometido através dos votos. Sou grato a Deus por tudo isso, sou grato aos SCJ e ao Pe. Dehon.

Ester Marchese (Auxiliares Dehonianas, Monza)

É um motivo de alegria dar a conhecer esta nossa caminhada de leigos, sustentada pelo carisma dehoniano. Escolhi uma carta que uma auxiliar me escreveu antes de morrer. É uma vida que encanta, que fala por si mesma.

Caríssima Ângela,

É com muita alegria que revejo contigo minha história de auxiliar, uma história vivida intensamente, cujos momentos mais fortes eu partilho contigo na oração, na amizade profunda.

Faz muito tempo, uns trinta anos, que meu diretor espiritual me perguntou se eu queria viver uma vida de amor profundo. Era uma pergunta que permanece atual pois requer sempre uma resposta nova, pois nova é a vida, a cada dia, com suas alegrias, suas sombras, seus sofrimentos. Quantos passos foram necessários para entender alguma coisa

A ajuda recebida foi muita.

Lembro-me de ti, nos primeiros cursos em Cavedago (Trento) quando estávamos apenas começando. Depois veio o estudo por correspondência. Meus trabalhos escritos devem ter causado risadas, mas me fizeram muito bem.

Nossos encontros em Monza passaram a ter maior regularidade e lembro a ginástica que eu fazia para poder estar presente, sempre com alegria, com o desejo de saber mais, de aprender, de entender.

No fim desses encontros eu me encontrava contigo para trocar idéias e expor minhas reações. Tu sempre me ajudaste abrindo teu coração e oferecendo tua experiência. Isto tornou-se um costume durante anos. Quanto foram ricos estes momentos de amizade nos quais nos questionávamos e encontrávamos as respostas e, depois, íamos rezar diante do Santíssimo. Obrigado, Ângela, por tudo o que fizeste por mim.

Amor, oblação, reparação, palavras que devo fazer minhas para poder vivê-las. Durante anos foram ditas em encontros e cursos. Cada uma delas deixou suas marcas.

Entretanto, o compromisso com o Senhor exigia mais. Veio a emoção da primeira oblação, depois, a primeira consagração, para chegar à consagração definitiva. Era sempre um novo começo.

Lembro que foi dito que nehuma estrutura haveria de mudar nosso modo de viver, nem a família, nem o trabalho, nem a paróquia. O ambiente de nossa vida ficaria o mesmo. A diferença seria o nosso modo de ser. Este passaria a exigir um compromisso sério e cada opção seria uma livre escolha deste amor, ou a recusa do mesmo.

Pouco a pouco, estas escolhas foram transformando a minha vida em seus diversos aspectos, desde a oração, na qual aprendi a ver a alegria, o valor da adoração, da oração comunitária, ao trabalho, fora e em casa, e no trabalho pastoral. O espírito de abandono ganhou terreno em meu coração. A cada dia tenho que pedir perdão e recomeçar com confiança porque Deus é amor.

A espiritualidade dehoniana, a meu ver, será sempre atual em suas propostas. Quem a abraça pode transformar o próprio compromisso de família, de trabalho e de pastoral num compromisso pela justiça e pela paz, inclusive no aspecto político e social. O Coração de Jesus poderá tornar-se o coração do mundo. Enquanto escrevo estas memórias de minha vida não posso esquecer quem viveu a meu lado durante anos e me deixou, porque o Senhor as chamou a si.

Revejo Maria Sala, discreta e atenta, ouço suas palavras bondosas. Lembro-a na cama do hospital antes de morrer: ainda sorri, apesar da dor. Com os dedos escrevia no lençol porque não podia mais falar. Eram palavras de fé, de abandono, de oferta de si pelos sacerdotes. Foi um exemplo que jamais esquecerei. Admiro o trabalho pastoral que ela fez em sua terra, para onde voltou ao aposentar-se e pelo modo como enfrentou a dor antes de morrer.

É muito belo lembrar a alegria que sentíamos ao ver como a nossa família foi se tornando uma família de verdade, a partilha das alegrias e dos sofrimentos, ver crescer e amadurecer o compromisso assumido, os tantos momentos vividos juntos. Tudo isso mudou nossas vidas. Depois destas recordações todas, saúdo-te com um abraço forte na certeza de que haveremos de caminhar juntas sempre, na mais profunda amizade. Nosso ideal será a força de nossa vida.

Afetuosamente,

Ester Marchese