HISTÓRIA E MEMÓRIA

P. STANISLAUS FRANZ BERNARD LOH, SCJ

Bernhard Bothe (GE)
P. Stanislaus (Franz) Loch

*25 de fevereiro de 1879, em Nordhorn, Alemanha,

+20 de março de 1941, em Düsseldorf, Alemanha

Franz Bernhard Loh, filho de Heinrich e Maria Schomacker, católicos praticantes, nasceu em Nordhorn e logo foi batizado. A capital daquela região é Bentheim no norte da Alemanha, perto da Holanda. Era uma família da artesões. Seu avô era carpinteiro e mercador de lã. O outro avô era sapateiro, seu pai, tintureiro e sacristão. O segundo nome, Bernhard, faz parte da tradição da família. Sua irmã mais velha era cozinheira de hotel e colaboradora na paróquia. Outro irmão, mais novo, também chamava-se Bernhard e era lojista. O caçula era cabo no exército e morreu na primeira guerra mundial.

Franz cresceu num ambiente profundamente católico. Fez primeira comunhão em 1893. Foi durante os anos de escola que sua vocação religiosa foi amadurecendo. Entrou no mosteiro dominicano de Venlo, na Holanda, na condição de irmão e era sapateiro ali. Viu-se logo chamado a ser padre também. Logo abriu-se um caminho. O seminário de Sittard, Holanda, dos Padres do S. Coração de Jesus receberam-no como vocacionado adulto. Ali ele fez o segundo grau e entrou no noviciado aos 28 anos. Depois da profissão, foi estudar filosofia e teologia no Luxemburgo, onde foi ordenado padre em 1913.

De 1913 a 1919 trabalhou numa paróquia de Viena. Durante a primeira grande guerra foi convocado como sanitarista. Deixou Viena parra assumir a direção do seminário de Sittard até 1922. Distinguiu-se pelo compromisso pela vida religiosa, humildade e pelo cumprimento zeloso de seus deveres. Foi um superior que educou e formou pelo seu exemplo de vida e espírito de serviço.

Naquele tempo em Sittard ele alimentava o desejo de fundar uma casa religiosa na Alemanha. Após diversas tentativas infrutíferas, com a ajuda de seu irmão Bonifatius, também religioso, ele partiu para Handrup, perto de Linden.

Logo teve a permissão das autoridades civis. A permissão eclesiástica veio em 1920. Começou logo a construir um colégio e, em 1923, entraram os primeiros 25 alunos. Com a inflação em alta, era moda pagar a mensalidade em espécie. Apesar das limitações materiais foi um período maravilhoso. A consagração da igreja, ocorrida em 1927, foi uma ocasião especial para o reitor da escola, para a comunidade religiosa e para o povo da localidade. Em 1930, o P. Franz foi de novo chamado para assumir o seminário de Sittard. Entrementes, sua escola tinha crescido bastante e conseguido o direito de expedir certificados, em 1929. O número de noviços passou a aumentar. A crise econômica que pairava sobre a Alemanha deixava inquieto o reitor.

Em 1935 os nacional-socialistas impuseram várias restrições às atividades da Igreja e das ordens religiosas o que levou-as à beira da ruína financeira. Estando os scj há pouco na Alemanha os efeitos foram maiores. As comunidades de Dusseldorf, Handrup, Neustadt, Freiburg, Bendorf e Sittard, a maioria com dívidas ainda, acharam-se num beco sem saída.

P. Franz foi nomeado superior provincial em 1932, o que veio a aumentar seu tormento. Ficou no cargo até 1936.

Ele era o responsável pelas casas recentemente fundadas, casas que tinham crescido rapidamente e, agora, achavam-se em sérias dificuldades de manutenção. A comunidade de Sittard foi a mais atingida pelas medidas novas, haja vista as restrições para enviar dinheiro ao exterior (Sittard era casa alemã, na Holanda). Não havia outro modo de suprir as necessidades da casa senão apelando para meios ilegais e clandestinos. A angústia do P. Franz era de ter de apelar para tais recursos. Embora contasse com o apoio de todos os seus confrades, para ele isto constituía uma violação da consciência e um drama interior enorme.

Em 1935 aconteceu um fato alentador. O superior geral, P. Philippe, foi nomeado bispo coadjutor do Luxemburgo. Depois de consagrado em Roma, ele veio para Sittard ordenar os diáconos da Província alemã. No dia seguinte, veio a terrível notícia: a polícia alemã tinha descoberto tudo. Um irmão alemão que trabalhava numa gráfica e era simpatizante do nazismo tinha entregue o ouro aos bandidos. A alegria da festa de ordenação transformou-se num inferno. Alguns irmãos voltaram para a Alemanha e os demais permaneceram em Sittard. Entre eles estava o P. Loh. O julgamento aconteceu em 1936, em Krefeld. Todos os padres foram citados e alguns condenados à cadeia.

Sendo considerado revel, P. Franz passou a merecer a atenção do ministério público. Pediu-se para ele 5 anos de prisão, quatro de perda da honra e uma multa de quinhentos mil marcos. A multa recairia sobre a Congregação. A sentença acabou sendo uma pouco mais branda: três anos e meio de cadeia, quatro sem honra e multa de 80 mil marcos. O tribunal considerou-o culpado por ser ele superior provincial. O objetivo maior destes julgamentos era de desmoralizar a Igreja Católica na Alemanha.

Estas sentenças proferidas em Krefeld contra os dehonianos foram um choque insuportável para o P. Loh. Ele jamais voltou a ser o mesmo. Ele via a intenção clara de destruir a Província alemã dos Padres do Coração de Jesus, que não pactuava com a política seguida pelo nazismo. Nos anos seguintes ele foi viver na comunidade de Cinqfontaines, no Luxemburgo. Não demorou e aquele país foi invadido pelos alemães. Em dezembro de 1940, P. Loh foi descoberto e preso. Ali começou outra via sacra para ele. Foi levado primeiro para a prisão de Rheinbach, perto de Bonn. Depois foi transferido para Dusseldorf. Foi humilhante para ele ser levado de trem, em roupas clericais, preso e vigiado por soldados. Esta situação toda, aliada à sua diabete, não lhe permitiram sobreviver por muito tempo na cadeia. Poucos dias antes de sua morte, seus confrades conseguiram descobrir onde ele se encontrava detido e ficaram sabendo de suas precárias condições. Seu sucessor como provincial, P. Schunck, conseguiu licença para visitá-lo, junto com o reitor da casa de Dusseldorf. Puderam ficar pouco tempo com ele. Completamente arrasados deixaram a cela em lágrimas.

P. Loh morreu a 20 de março de 1941. Seu corpo foi entregue aos confrades. Foi sepultado vestido de vermelho, como fosse um mártir. Muitos confrades compareceram. Dois agentes da Gestapo vigiavam de perto a cerimônia. A atmosfera do momento era deprimente.

P. Loh tinha dito aos confrades, na breve visita que he fizeram, que ele oferecia sua vida pelo futuro da Congregação na Alemanha. Ele nutria uma grande amor a seu Instituto. Em sua longa vida de sofrimentos ele cumpriu as palavras do Senhor: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus irmãos” (Jo 15,13). Vinte anos depois de sua morte, ele foi absolvido junto com seus confrades com ele condenados.. A 18 de maio de 1961 aquela sentença foi anulada pela corte de apelo de Krefeld.