+Pe. José Vieira Alves (LU)

Partiu para o Pai, após uma doença que se manifestou quase de forma imprevista e repentina. A intervenção que inicialmente pareceu ter corrido bem, acabou por revelar a gravidade da situação que nem permitiu o recurso à prevista quimioterapia.

O Pe. Alves não era muito conhecido na Província. É natural que alguns confrades nem o tivessem nunca visto. Toda a sua vida sacerdotal decorreu em Moçambique, onde trabalhou durante 35 anos.

Natural da Ponta do Sol, entrou no Colégio Missionário já com 13 anos, em 1948, fazendo parte do segundo grupo de alunos. Deste pequeno grupo acabou por ficar sozinho, pelo que os superiores da altura o passaram para o primeiro grupo, do qual faziam parte, além de outros, os hoje Padres Martins (Linda-a-Velha), Manuel Gouveia, José Diomário (Moçambique) e Fernando Ribeiro. Foi este pequeno grupo que em 1952 rumou a Coimbra, para os seus estudos de Filosofia, naquele que se chamou desde logo Instituto Missionário Sagrado Coração, que teve inícios modestos numa cave de uma dependência do Seminário de Coimbra.

Após os 3 anos de Coimbra, seguiu para a Itália, a fim de fazer o Noviciado em Albissola Superiore (Saviore), tendo feito a primeira profissão a 29 de Setembro de 1956. Regressou a Portugal para o estágio de Vida Religiosa no Colégio Missionário, findo o qual seguiu para Bolonha (Itália), onde fez o curso de Teologia. Em Bolonha fez a profissão Perpétua a 29 de Setembro de 1959, tendo recebido a ordenação sacerdotal no fim do 3º ano, como era naquela altura por um privilégio que terminou exactamente nesse nessa altura (1961).

Terminado o 4º ano de Teologia (1962), regressou a Portugal, mas já destinado às Missões de Moçambique, para onde seguiu no mês de Dezembro.

O seu primeiro serviço em terras moçambicanas foi o de Prefeito dos Estudos, como então se dizia, no Seminário S. Francisco Xavier em Milevane. Aí se manteve e trabalhou até que foi transferido para a então chamada Vila Junqueiro, hoje Guruè, em Outubro de 1971.

Em vista de um serviço missionário mais qualificado, teve a possibilidade de passar um ano em Bruxelas, de Julho de 1972 a Outubro de 1973, frequentando o Instituto "Lumen Vitae". Novamente em Moçambique integrou-se no grupo de trabalho do catequistado de Nauela, até à altura da independência do país (1975).

A partir daí e com a extinção de grande parte das estruturas missionários e das casas de formação, trabalhou sucessivamente na Missão de Ilè e de Namarroi. Mas com o agravar-se da situação de guerra civil teve de abandonar esta última Missão, tendo-lhe nessa altura (1987) sido pedido o serviço de formador na casa de Maputo, onde se manteve apenas um ano, sempre devido à sempre complicada situação política do país, que exigiu aos missionários muita coragem e imaginação.

Em Julho de 1978, tendo sido possível a abertura e organização da Casa Coração de Jesus, foi-lhe pedido que integrasse a primeira equipa formadora dessa estrutura de formação para a Vida religiosa e sacerdotal da nossa Congregação.

Entretanto, com o progressivo ainda que lento regresso do país à normalidade, as nossas estruturas formativas foram-se definindo e estabilizando, de modo que se tornou possível a abertura da casa de formação do Fomento nas redondezas da capital e destinada a proporcionar aos professos a possibilidade de frequentar o Seminário Regional. O Pe. Alves foi chamado a trabalhar aí como formador, desde fins de 1993, até que, dois anos mais tarde, foi nomeado Superior da Casa Padre Dehon em Maputo, passando também a assumir a responsabilidade da paróquia de Infulene, nos arredores da capital.

A sua disponibilidade ao serviço do crescimento primeiro da Região e finalmente da Província de Moçambique voltou a manifestar-se uma vez mais quando, em Janeiro de 1998, lhe foi pedido que acompanhasse os estudantes de Teologia nos Camarões. Foi então que aceitou transferir-se para esse país, onde todavia encontrou a realidade dura de uma doença que não lhe permitiu lá permanecer muito tempo. Daí seguiu para Portugal à procura de alívio para os seus males. Impossibilitado de regressar à amada terra moçambicana, por cá ficou, acabanado por solicitar a transferência para a nossa Província.

Colocado na Comunidade do Colégio Missionário, integrou a equipa formadora, prestando a sua preciosa colaboração como Director Espiritual, até ao momento em que se manifestou a terrível doença que o atirou para um leito do hospital, onde escreveu o último e edificante capítulo da sua oblação ao Coração de Jesus, a cujo amor misericordioso o encomendamos.

A 1 de Setembro passado foi a uma consulta ao Hospital do Funchal, procurando explicação para uma protuberância situada no lado direito do abdómen. Ficou de imediato hospitalizado para observação. Passados poucos dias decidiram os médicos remover-lhe um tumor na altura ainda não suficientemente identificado. Recuperou bem da intervenção, tendo regressado ao Colégio Missionário, onde permaneceu pouco mais de uma semana.

Entretanto, o seu estado voltou a agravar-se, pelo que teve de ser novamente hospitalizado a 5 de Outubro. Confirmada a natureza maligna do mal, a sua vida de então para cá manteve-se por um fio, com altos e baixos de ligeiríssimas melhoras.

Por altura do Dia Mundial das Missões, pareceu um pouco mais aliviado e estando perfeitamente consciente, recebeu o sacramento da Santa Unção. Nos últimos dias a sua situação continuou a agravar-se consideravelmente, o que levou os confrades e os familiares a estarem quase permanentemente a seu lado.

Finalmente, no dia 17 de Novembro pelas 9,45 h. apagou-se serenamente no presença do Pe. David, Superior do Colégio Missionário e de uma das sua irmãs, religiosa da Congregação da Apresentação de Maria.

Que descanse na paz do Coração de Jesus e d'Ele receba o prémio reservado aos seus amigos mais dedicados e fiéis.