CONSTITUIÇÃO DOS SACERDOTES DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


PRIMEIRA PARTE


SEGUNDO O CARISMA DO FUNDADOR


1. A Congregação suscitada e enviada pelo Espírito


1. A Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus
foi fundada em 1878 em S.Quintino pelo Padre João Leão Dehon,
que recebeu a graça e a missão de enriquecer a Igreja
com um Instituto religioso apostólico
que vivesse da sua inspiração evangélica.

É chamada a fazer frutificar esse carisma,
segundo as exigências da Igreja e do mundo.

2. Segundo a experiência de fé do Padre Dehon


2. Este Instituto tem a sua origem
na experiência de fé do Padre Dehon.

Tal experiência é a mesma que S. Paulo assim exprimiu:
"A vida que agora vivo na carne,
vivo-a na fé do Filho de Deus,
que me amou e Se entregou por mim"
(Gal 2,20).

O Lado aberto e o Coração trespassado do Salvador
constituem para o Padre Dehon
a expressão mais evocadora de um amor,
cuja presença activa experimenta na sua vida.

3. Neste amor de Cristo que aceita a morte
como doação suprema da sua vida pelos homens
e como obediência filial ao Pai,
o Padre Dehon vê a própria fonte da salvação.

Do Coração de Cristo, aberto na cruz,
nasce o homem de coração novo,
animado pelo Espírito e unido aos seus irmãos
na comunidade de amor, que é a Igreja
(cf. Études sur le Sacré-Coeur, I, p. 114).

4. O Padre Dehon é muito sensível ao pecado que debilita a Igreja,
sobretudo o das almas consagradas.

Ele conhece os males da sociedade;
estudou atentamente as suas causas,
no plano humano, pessoal e social.

Mas reconhece na recusa do amor de Cristo
a causa mais profunda
desta miséria humana.

Possuído por este amor, que não é acolhido,
quer corresponder-lhe,
com uma união íntima ao Coração de Cristo
e com a instauração do seu Reino nas almas e na sociedade.

5. Esta adesão a Cristo,
nascida do íntimo do coração,
havia de realizar-se em toda a sua vida,
sobretudo no apostolado, caracterizado
por uma extrema atenção aos homens,
especialmente os mais desprotegidos,
e pela solicitude em remediar activamente
as insuficiências pastorais da Igreja do seu tempo.

Esta adesão exprime-se e concentra-se
no sacrifício eucarístico,
transformando toda a sua vida
numa missa permanente
(Couronnes d'Amour, III, p. 199).

3. Ao serviço da Igreja


6. Ao fundar a Congregação dos Oblatos,
Sacerdotes do Coração de Jesus,
o Padre Dehon quis que os seus membros
unissem, de forma explícita,
a sua vida religiosa e apostólica
à oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos homens.

Esta foi a sua intenção específica e originária
e a índole própria do Instituto (cf. LG e PC),
o serviço que é chamado a prestar à Igreja.
Conforme dizia o próprio Padre Dehon:
"Nestas palavras: Ecce venio, ... Ecce ancilla...,
encerram-se toda a nossa vocação, a nossa finalidade,
o nosso dever, as nossas promessas"
(Dir. Esp. I. 3).

7. O Padre Dehon espera que os seus religiosos
sejam profetas do amor e servidores da reconciliação
dos homens e do mundo em Cristo (cf. 2 Cor 5,18).

Assim comprometidos com Ele,
para reparar o pecado e a falta de amor na Igreja e no mundo,
prestarão com toda a sua vida,
com as orações, trabalhos, sofrimentos e alegrias,
o culto de amor e de reparação
que o seu Coração deseja
(cf. NQ XXV, 5).

4. Numa comunidade fraterna


8. A Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus
é um Instituto religioso clerical apostólico,
de direito pontifício,
constituído por Províncias e Regiões.

Os seus membros emitem votos públicos
de celibato consagrado, de pobreza e de obediência,
segundo a Regra e as normas do Instituto.

São todos iguais
na mesma profissão de vida religiosa,
sem qualquer distinção a não ser a dos ministérios.

Membros de Cristo,
fiéis ao seu premente convite do Sint unum,
levam fraternamente os fardos uns dos outros,
numa mesma vida comum.

SEGUNDA PARTE


SEGUINDO A CRISTO...


A. COM CRISTO, AO SERVIÇO DO REINO


1. A nossa experiência de fé


9 - Na Igreja, fomos iniciados
na Boa Nova de Jesus Cristo:
"Nós conhecemos e cremos
no amor que Deus nos tem"
(1 Jo 4,16).

Recebemos o dom da fé
que dá fundamento à nossa esperança;
uma fé que orienta a nossa vida
e nos inspira a deixar tudo
para seguir a Cristo;
no meio dos desafios do mundo,
devemos consolidá-la,
vivendo-a na caridade.

Com todos os nossos irmãos cristãos
confessamos, por meio do Espírito,
que Cristo é o Senhor,
no qual o Pai nos manifestou o seu amor
| e que continua presente no mundo para o salvar.

"Ninguém pode dizer - Jesus é o Senhor -
senão sob a acção do Espírito Santo"
(1 Cor 12,3).

2. Testemunhas do primado do Reino


10 - Enviado na plenitude dos tempos,
Cristo, em obediência ao Pai,
prestou o seu serviço
em prol das multidões.

"O Filho do Homem não veio para ser servido
mas para servir e dar a sua vida
em resgate por todos"
(Mc 10,45).

Com a sua solidariedade para com os homens,
qual novo Adão,
Ele revelou o amor de Deus
e anunciou o Reino:
este mundo novo já presente em germe
nos esforços he-sitantes dos homens,
encontrará a sua realização,
para além de todas as expectativas,
quando, por Jesus, Deus for tudo em todos.

"Sabemos que toda a criação geme e sofre
como que dores de parto até ao presente.
Não só ela, mas também nós,
que possuí-mos as primícias do Espírito,
gememos em nós mesmos,
aguar-dando a adopção,
a redenção do nosso corpo"
(Rom 8,22-23).

"E quando tudo lhe estiver sujeito,
então também o próprio Fi-lho Se submeterá
Àquele que Lhe sujeitou todas as coisas
, para que Deus seja tudo em todos"
(1 Cor 15,28).

11 - Cristo rezou pelo advento do Reino,
que já está em acção
com a sua presença no meio de nós.
Pela sua morte e ressurreição,
abriu-nos ao dom do Espírito
e à liberdade dos Filhos de Deus (cf. Rom 8,21).

Ele é para nós o Primeiro e o Último,
Aquele que vive (cf. Ap 1,17-18).

12 - N'Ele foi criado o homem novo, à imagem de Deus,
na justiça e na santidade verdadeiras (cf. Ef 4,24).

Cristo faz-nos acreditar que,
apesar do pecado, os fracassos e a injustiça,
a redenção é possível,
oferecida e já está presente.

O seu Caminho é o nosso caminho.

13 - Com todos os nossos irmãos cristãos,
somos levados a seguir os passos de Cristo,
para alcançar a santidade (cf. 1 Tess 4,7).

"Para isto fostes chamados:
o próprio Cristo sofreu por vós
e deixou-vos o exemplo
para seguirdes os seus passos"
(1 Pd 2,21).

Radicada no Baptismo e na Confirmação,
a nossa vocação religiosa é um dom particular
em ordem à glória de Deus
e para testemunhar o primado do Reino.

14 - Encontra o seu sentido
na adesão total e alegre
à Pessoa de Jesus.

Compromete-nos a seguir a Cristo
casto e pobre, que,
pela sua obediência até à morte de cruz,
redimiu e santificou os homens
(PC 1).

Fazemos profissão de tender à caridade perfeita,
consagrando-nos inteiramente
ao amor de Deus e dos nossos irmãos.

15 - Para cada um de nós, para as nossas comunidades,
a nossa vida religiosa é história:
de-senvolve-se a partir da graça das origens,
nutrindo-se daquilo que a Igreja,
iluminada pelo Espírito, retira constantemente do tesouro da sua fé.

3. Unidos a Cristo no seu amor e na sua oblação ao Pai


16 - Chamados a servir a Igreja
na Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus,
a nossa resposta supõe uma vida espiritual:
uma abordagem comum do mistério de Cristo,
sob a acção do Espírito,
e uma especial atenção
ao que, na inesgotável riqueza desse mistério,
corresponde à experiência do Padre Dehon
e dos primeiros membros da Congregação.

17 - Discípulos do Padre Dehon,
queremos fazer da nossa união com Cristo,
no seu amor pelo Pai e pelos homens,
o princípio e o centro da nossa vida.

Meditamos com predilecção
nestas palavras do Senhor:
"Permanecei em Mim, como Eu permaneço em vós:
como a va-ra não pode dar fruto por si mesma,
se não permanecer na videira,
assim acontecerá convosco,
se não permanecerdes em Mim"
(Jo 15,4).

Fiéis à escuta da Palavra, e à fracção do Pão,
somos chamados a descobrir, cada vez mais,
a Pessoa de Cristo e o mistério do seu Coração
e a anunciar o seu amor que excede todo o conhecimento.

"Cristo habite pela fé, nos vossos corações
de sorte que, enrai-zados e fundados no amor,
possais compreender, com todos os Santos,
qual é a largura e o comprimento,
a altura e a profundidade
e conhecer, enfim, o amor de Cristo
que excede todo o conhecimento,
S para serdes repletos da plenitude de Deus"
(Ef 3,17-19).

18 - É também na disponibilidade
e no amor para com todos,
especialmente para com os pe-quenos e os que sofrem,
que viveremos a nossa união a Cristo.

Como poderíamos, efectivamente, compreender
o amor que Cristo nos tem,
senão amando como Ele em obras e em verdade?

Neste amor de Cristo encontramos a certeza
de alcançar a fraternidade humana
e a força de lutar por ela.

19 - Segundo o seu desígnio de amor,
concebido antes da criação do mundo (cf. Ef 1,3-14),

o Pai enviou-nos o seu Filho:
"Ele O entregou por todos nós" (Rom 8,32).
Pela ressur-reição, constituiu-O Senhor,
Coração da humanidade e do mundo,
esperança de sal-vação para quantos ouvem a sua voz.


"Apesar de Filho de Deus, aprendeu a obedecer,
sofrendo, e, uma vez atingida a perfeição,
tornou-Se para todos os que Lhe obedecem
fonte de salvação eterna"
(Heb 5,8-9).

20 - Cristo realiza esta salvação,
suscitando nos corações,
o amor para com o Pai e entre nós:
amor que regenera,
fonte de crescimento para as pessoas
e para as comunidades humanas
e que encontrará a sua plena manifestação,
quando tudo for recapitulado em Cristo.

21 - Com S. João, vemos no Lado aberto do Crucificado
o sinal do amor que, na doação total de Si mesmo,
recria o homem segundo Deus.

Contemplando o Coração de Cristo,
símbolo privilegiado desse amor,
somos fortalecidos na nossa vocação.
Com efeito, somos chamados a inserir-nos
nesse movimento de amor redentor,
doando-nos aos irmãos, com e como Cristo.

"Nisto conhecemos o amor:
Ele deu a vida por nós. Também nós
devemos dar a vida pelos irmãos"
(1 Jo 3,16).

22 - Implicados no pecado,
mas participantes na graça redentora,
pela realização de todas as nossas tarefas,
queremos unir-nos a Cristo presente na vida do mundo
e, em solidariedade com Ele e com toda a humanidade e a criação inteira,
oferecer-nos ao Pai como oblação viva, santa e agradável (cf. Rom 12,1).

"Caminhai no amor segundo o exemplo de Cristo
que nos amou e Se entregou por nós a Deus,
como oferenda e sacrifício de agradável odor"
(Ef 5,2).

23 - É assim que entendemos a reparação:
como acolhimento do Espírito (cf. 1 Tess 4,8),
como resposta ao amor de Cristo por nós,
comunhão no seu amor pelo Pai
e cooperação com a sua obra redentora no coração do mundo.

É aí, de facto, que hoje
Cristo liberta os homens do pecado
e restaura a união da humanidade.
E é também aí que Ele nos chama a viver
a nossa vocação reparadora,
como estímulo do nosso apostolado (cf. GS 38).

24 - A vida reparadora será, por vezes, vivida
na oferta dos sofrimentos
suportados com paciência e abandono,
mesmo na noite escura e na solidão,
como eminente e misteriosa comunhão
com os sofrimentos e com a morte de Cristo
pela redenção do mundo.

"Alegro-me nos sofrimentos
suportados por vossa causa
e completo na minha carne
o que falta aos sofrimentos de Cristo
pelo seu Corpo, que é a Igreja"
(Col 1,24).

25 - Animando, assim, tudo o que somos,
fazemos e sofremos pelo serviço do Evangelho,
o nosso amor,
pela participação na obra de reconciliação,
cura a humanidade, reúne-a no Corpo
de Cristo e consagra-a para Glória e Alegria de Deus.

4. Participantes na missão da Igreja


26 - Sacerdotes do Coração de Jesus,
vivemos hoje no nosso Instituto
a herança do Padre Dehon.
Somos religiosos consagrados ao Senhor pelos votos,
com uma fisionomia espiritual reconhecida pela Igreja
- a do Fundador.

A seu exemplo, por graça especial de Deus,
somos chamados na Igreja
a procurar e a realizar, como o único necessário,
uma vida de união à oblação de Cristo.

27 - Esta consagração possui já, por si mesma,
uma real fecundidade apostólica.
Como todo o carisma na Igreja,
o nosso carisma profético coloca-nos ao serviço
da missão salvífica do Povo de Deus
no mundo de hoje (cf. LG 12).

28 - Sequiosos de intimidade com o Senhor,
procuramos os sinais da sua presença
na vida dos homens,
onde actua o seu amor salvador.

Partilhando as nossas alegrias e sofrimentos,
Cristo identificou-Se com os pequenos e com os pobres,
aos quais anuncia a Boa Nova.

"Em verdade vos digo:
todas as vezes que fizestes isto
a um destes meus irmãos mais pequeninos,
foi a Mim que o fizestes"
(Mt 25,40).

"O Espírito do Senhor está sobre Mim...
enviou-Me para anunciar a Boa Nova
aos pobres, a libertação aos cativos,
a vista aos cegos,
a liberdade aos oprimidos,
a proclamar um ano de graça do Senhor"
(Lc 4,18-19).

29 - No seguimento de Cristo,
devemos viver
em solidariedade efectiva com os homens.

Sensíveis a tudo aquilo que, no mundo de hoje,
constitui obstáculo ao amor do Senhor,
queremos testemunhar que o esforço humano,
para chegar à plenitude do Reino,
tem de se purificar
e transfigurar constantemente
pela Cruz e Ressurreição de Cristo.

"Os religiosos, pelo seu estado,
dão um testemunho muito especial
de como não é possível transfigurar o mundo
e oferecê-lo a Deus
sem o espírito das Bem-aventuranças"
(LG 31).

30 - O nosso Instituto é, por sua natureza,
um instituto apostólico:
pomo-nos, também nós, generosamente ao serviço da Igreja
nas diversas tarefas pastorais.

Embora não tenha sido fundado
em vista de uma obra determinada,
o nosso Instituto herdou do Fundador
certas orientações apostólicas,
que caracterizam a sua missão na Igreja.

31 - Para o Padre Dehon, desta missão,
em espírito de oblação e de amor, fazem parte
a adoração eucarística,
como autêntico serviço de Igreja (cf. NQ 1.3.1893)
e o ministério junto dos pequenos e humildes,
dos operários e dos pobres
(cf. Souvenirs XV),
para lhes anunciar as insondáveis riquezas de Cristo (cf. Ef 3,8).

Em vista deste ministério,
o Padre Dehon dá grande importância
à formação dos sa-cerdotes e dos religiosos.

A actividade missionária constitui para ele
uma forma privilegiada de serviço apostólico.

Em tudo isto, a sua preocupação constante
é que a comunidade humana,
santificada pelo Espírito Santo,
se torne uma oblação agradável a Deus (cf. Rom 15,16).

32 - A exemplo do Fundador,
sintonizando com os sinais dos tempos
e em comunhão com a vida da Igreja,
queremos contribuir para instaurar
o reino da justiça e da caridade cristã no mundo (cf. Souvenirs XI).

Os Directórios Provinciais estabelecem,
conforme os tempos e lugares,
os empenha-mentos concretos,
que, na Igreja local,
correspondem a estas orientações apostólicas.

33 - Para nós, como para o Padre Dehon,
a actividade dos nossos missionários
assume parti-cular importância.

Toda a Congregação está presente
no seu ministério de evangelização,
pelo qual dão aos homens
esta prova de amizade:
estar no meio deles ao serviço da Boa Nova.

34 - Prestamos o nosso serviço do Evangelho
na Igreja universal, em comunhão
com os res-ponsáveis das Igrejas locais.

Com eles, devemos procurar as modalidades
da nossa inserção na missão da Igreja
que nos permitam desenvolver
as riquezas da nossa vocação.

5. Atentos aos apelos do mundo


35 - A vida de oblação suscitada em nossos corações
pelo amor gratuito do Senhor,
configura-nos à oblação d'Aquele que, por amor,
Se entregou totalmente ao Pai e aos homens.

Essa vida leva-nos a procurar,
cada vez mais fielmente,
com o Senhor pobre e obediente,
a vontade do Pai a nosso respeito
e a respeito do mundo.

Torna-nos atentos
aos apelos que o Pai nos dirige
através dos acontecimentos pequenos e grandes
e nas expectativas e realizações humanas.

36 - Verificamos que o mundo de hoje se agita
num imenso esforço de libertação:
libertação de tudo quanto lesa a dignidade do homem
e ameaça a realização
das suas mais pro-fundas aspirações:
a verdade, a justiça, o amor, a liberdade (cf. GS 26-27).

"... debaixo, porém, de tais reivindicações
oculta-se uma aspi-ração mais profunda
e mais universal:
as pessoas e os grupos aspiram
a uma vida plena e livre, digna do homem...
Assim, o mundo moderno aparece,
ao mesmo tempo,
poderoso e fraco, capaz do melhor e do pior;
à sua frente rasga-se o caminho
da liberdade ou da escravidão,
do progresso ou da regressão,
da fraternidade ou do ódio.
Por outro lado, o homem adquire consciência
de que depende dele dirigir rectamente as forças
que ele pôs em movimento
e que podem esmagá-lo ou servi-lo.
Por isso, o homem interroga-se a si mesmo
" (GS 9).

37 - Nestas interrogações e procuras
entrevemos a expectativa de uma resposta
que os homens esperam,
mesmo sem chegar a formulá-la claramente.

Partilhamos essas aspirações
dos nossos contemporâneos,
como abertura possível
ao advento de um mundo mais humano,
ainda que elas contenham o risco
de um malogro e de uma degradação.

Pela fé, na fidelidade ao magistério da Igreja,
relacionamos tais aspirações com a vinda do Reino,
por Deus prometido e realizado em seu Filho.

38 - Longe de nos alhear dos homens,
a nossa profissão dos conselhos evangélicos
torna-nos mais solidários com a sua vida.

Na nossa maneira de ser e de agir,
pela participação na construção da cidade terrena
e na edificação do Corpo de Cristo,
devemos testemunhar eficazmente
que é o Reino de Deus e a sua justiça
que se devem procurar
antes de tudo e acima de tudo (cf. Mt 6,33).

"E não se julgue que os religiosos,
pela sua consagração, se alheiam dos homens
ou se tornam inúteis à sociedade terrena.
Pois, embora algumas vezes
não se ocupem directamente
dos seus contemporâneos,
têm-nos presentes, de modo mais profundo,
nas entranhas de Cristo
e colaboram espiritualmente com eles,
a fim de que a edificação da cidade terrena
se alicerce sempre no Senhor
e para Ele se oriente,
não suceda trabalharem em vão os construtores"
(LG 46).

39 - Queremos com a graça de Deus,
pela nossa vida religiosa,
dar um testemunho profético,
empenhando-nos sem reserva,
no advento da nova humanidade em Jesus Cristo.

B. CONTINUANDO A COMUNIDADE DOS DISCÍPULOS


1. Chamados à profissão das Bem-aventuranças


40 - Para exprimir e realizar
a nossa total consagração a Deus
e para unir toda a nossa vida à oblação de Cristo,
professamos os conselhos evangélicos
pelos votos de celibato consagrado
, de pobreza e de obediência (cf. LG 44; PC 1),
que nos libertam para o amor autêntico,
segundo o espírito das Bem-aventuranças (cf. LG 31).

O esforço para alcançar
essa liberdade em Jesus Cristo
é, para o mundo, um testemunho
e, para nós, uma tarefa permanente.


a. Vivendo o celibato consagrado

41 - Cristo deu-Se inteiramente ao Pai e aos homens
com um amor sem reservas.
Pelo voto de celibato consagrado,
dom de Deus para quem o compreende (cf. Mt 19,11),
comprometemo-nos diante de Deus
a viver a castidade perfeita no celibato pelo Reino
e a seguir a Cristo no seu amor a Deus e aos irmãos
e em seu modo de estar presente no meio dos homens.

42 - Este compromisso, fielmente vivido,
por vezes à custa de um esforço exigente (cf. Mt 5,29),


sobretudo pela união a Cristo
nos sacramentos e pela ascese pessoal,
liberta o nosso coração,
abre-nos à inspiração do Espírito
e ao encontro com o próximo na ca-ridade fraterna.

Permite-nos formar comunidades
onde, através de um encontro autêntico,
podemos alcançar a nossa realização humana
e esboçar uma nova família,
fundada sobre a força espiritual do amor.

43 - À imitação do Padre Dehon, temos por missão
testemunhar o amor de Cristo
num mundo à procura de uma unidade difícil
e de novas relações entre pessoas e grupos.

O nosso celibato consagrado,
faz-nos participar na construção de uma nova humanidade,
aberta para a comunhão no Reino.


b. Pobres segundo o Evangelho

44 - Cristo fez-Se pobre,
para nos enriquecer a todos com a sua pobreza.

"Conheceis a generosidade de N.S.Jesus Cristo:
que, sendo rico, Se fez pobre por vós,
para vos enriquecer pela sua pobreza"
(2 Cor 8,9).

Cristo convida-nos à bem-aventurança dos pobres,
no abandono filial ao Pai (cf. Mt 5,3).

Recordaremos o seu insistente convite:
"Vai, vende tudo o que tens,
dá-o aos pobres;
depois vem e se-gue-Me"
(Mt 19,21).

45 - Pelo voto de pobreza,
renunciamos ao direito de usar e dispor,
sem licença dos nossos superiores,
dos bens com valor pecuniário.

a. Tudo pertence ao Instituto:
o fruto do nosso trabalho, das reformas,
dos subsídios, dos seguros
e tudo aquilo que recebemos.

b. Conservamos a propriedade
dos nossos bens patrimoniais
e a capacidade de adquirir outros.

c. Antes da primeira profissão,
cedemos a quem quisermos
a administração dos nossos bens,
e dispomos livremente do seu uso e usufruto.
Antes da profissão perpétua,
fazemos um testamento
válido também civilmente.
Depois não se podem alterar essas disposições,
sem a licença do Superior maior.

d. Decorridos pelo menos dez anos
desde a primeira profissão,
com o consen-timento do Superior Geral
e o voto deliberativo do seu Conselho,
podemos renunciar
à propriedade dos nossos bens.


46 - A partilha dos bens no amor fraterno
permite-nos verificar
que, na Igreja e com a Igreja,
somos sinal no meio dos nossos irmãos.

Esta pobreza segundo o Evangelho
convida-nos a libertar-nos
da sede de posse e de prazer
que sufoca o coração do homem.

Estimula-nos a viver
na confiança e na gratuidade do amor.

47 - Neste espírito,
cada um de nós assume plenamente
a sua responsabilidade pessoal em relação à pobreza.

A observância da pobreza pela dependência
não é critério de verdadeira fidelidade,
se não inspirar e manifestar
um espírito de pobreza efectiva
e livremente assumida.

48 - Sob as suas diversas formas,
o nosso trabalho, retribuído ou não,
faz-nos participar verdadeiramente
na vida e condição dos homens do nosso tempo
e é também expressão da nossa pobreza ao serviço do Reino.

49 - Esta pobreza exige que procuremos juntos
um estilo de vida simples e modesto;
e que nos consideremos, pelo uso dos nossos bens,
responsáveis perante a comunidade.

50 - Põe-nos, assim, ao serviço de Deus e dos irmãos.
Mais do que nunca, tomamos consciência
da miséria que aflige muitos homens
de hoje: ouvimos o clamor dos pobres (ET 17).

A persistência da miséria, individual e colectiva,
constitui para nós um constante apelo
à conversão da nossas mentalidades e atitudes.

51 - Se tomarmos a sério
o nosso compromisso de pobreza,
estaremos dispostos a pôr tudo em comum entre nós
e a ir ao encontro dos pobres e necessitados.

A nossa predilecção irá para aqueles
que têm maior necessidade
de ser considerados e amados:
estamos todos solidários com os nossos irmãos
que se consagram ao seu serviço.

Esforçar-nos-emos por evitar
qualquer forma de injustiça social.

Só assim, e seguindo as directrizes da Igreja,
poderemos despertar as consciências
para os dramas da miséria
e para as exigências da justiça (cf. ET 17).

52 - Seremos, deste modo, discípulos do Padre Dehon,
que teve sempre uma particular atenção
para com os homens do seu tempo,
sobretudo os mais pobres:
aqueles a quem faltam recursos,
razões de viver e esperança.

Para nós, tal como para ele,
o compromisso da pobreza pretende significar
a entrega de toda a nossa vida
ao serviço do Evangelho.


c. Abertos a Deus na obediência

53 - Jesus submeteu-Se amorosamente
à vontade do Pai:
disponibilidade particularmente manifesta
na sua atenção e abertura
às necessidades e aspirações dos homens.

"O meu alimento é fazer a vontade
d'Aquele que Me enviou
e realizar a sua obra"
(Jo 4,34).

Queremos, a seu exemplo,
pela profissão da obediência,
fazer o sacrifício de nós mesmos a Deus
e unir-nos, de uma maneira mais firme,
à sua vontade de salvação.

"Vindo ao mundo, Cristo disse:
não quiseste sacrifício nem holocausto,
mas fizeste-Me um corpo.
Não Te agradavam nem holocaustos,
nem sacrifícios expiatórios pelos pecados.
Então Eu disse: eis que venho...
para fazer a tua vontade...
E é pela vontade de Deus que somos santificados,
graças à oferta que, uma vez por todas,
Jesus Cristo fez no seu corpo"
(Heb 10,5-7.10).

54 - Com este objectivo, pelo voto de obediência,
pomo-nos inteiramente ao serviço da Congregação,
empenhada na missão da Igreja.

Comprometemo-nos, assim,
a obedecer aos nossos Superiores,
no exercício legítimo
do seu serviço de autoridade
conforme as Constituições,
em tudo o que concerne à vida da Congregação
e à observância dos votos.
Devemos obedecer também
ao Soberano Pontífice e à Santa Sé.
No entanto, a nossa profissão não nos empenha apenas
quando os Superiores o peçam em força do voto:
insere toda a nossa vida no projecto de Deus.

55 - Congrega-nos numa vida comunitária
na qual, com a disponibilidade de todos,
mediante o diálogo aberto
e cheio de respeito por cada um
e sob a animação dos nossos Superiores,
procuramos a vontade de Deus.

Testemunhamos aos nossos Superiores
respeito e lealdade;
em efectiva corresponsabilidade
colaboramos com eles
no serviço do bem comum.

56 - O Superior, não sendo embora o único responsável,
é o primeiro servidor desse bem co-mum.

Estimula a fidelidade religiosa e apostólica
das pessoas e da comunidade,
a exemplo de Cristo-Servo que unia os seus
no serviço comum ao desígnio do Pai.

57 - Prestamos atenção ao que o Espírito nos inspira,
mediante a Palavra de Deus recebida na Igreja
e através dos acontecimentos da vida.

Queremos, deste modo, num mundo
em que os homens aspiram à liberdade,
teste-munhar a verdadeira liberdade
que Cristo nos adquiriu
e que só se consegue pela submissão ao Pai.

58 - Para o Padre Dehon, o Ecce Venio (Heb 10,7)
define a atitude fundamental da nossa vida.
Faz da nossa obediência um acto de oblação;
configura a nossa existência com a de Cristo,
pela redenção do mundo e para Glória do Pai.

2. Chamados a viver em comunidade


59 - Somos chamados, na Igreja, a seguir a Cristo
e a ser no meio do mundo
testemunhas e servidores da comunhão dos homens,
numa comunidade fraterna.

Comprometemo-nos livremente
a esta vida comunitária,
graças ao dom do Espírito.

Procuramos a inspiração e o modelo
desta vida comunitária
na comunidade dos discípulos
reunidos em redor do Senhor
e nas primitivas comunidades cristãs.

"Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos,
à união fraterna, à fracção do pão e à oração...
Os crentes viviam todos unidos
e tinham tudo em comum.
Vendiam as suas propriedades e os seus bens,
distribuíam-nos por todos,
segundo a necessidade de cada um"
(Act 2,42-45).

Esta vida comunitária vivemo-la numa comunidade do Instituto,
constituída segundo o direito universal.


a. Ao serviço da missão comum

60 - A nossa profissão dos conselhos evangélicos,
vivida em comunidade,
é a primeira ex-pressão da nossa vida apostólica:
testemunha a presença de Cristo
e anuncia o ad-vento do Reino de Deus (cf. PC 15).

61 - A nossa vida comunitária
está ao serviço de uma missão apostólica,
segundo a nossa vo-cação específica.
E no cumprimento de tal serviço
ela mesma se fortalece.

A comunidade deixa-se interpelar
pelos homens no meio dos quais vive.
Procura assumir e apoiar
os seus esforços de reconciliação e de fraternidade.

62 - É necessário que cada um, na sua função,
tenha consciência de ser o enviado da sua comunidade
e que todos se considerem
interessados e comprometidos
na actividade e na missão de cada um,
sobretudo quando uma comunidade
deve assumir diversos serviços.


b. Assíduos na comunhão fraterna (Act 2,42)

63 - A nossa vida comunitária não é apenas um meio:
embora sempre em construção,
ela é a realização mais densa da nossa vida cristã.

Deixando-nos penetrar pelo amor de Cristo
e atendendo à sua prece do "Sint unum",
esforçamo-nos por fazer das nossas comunidades
verdadeiros centros irradiadores de vida evangélica,
particularmente pelo acolhimento,
pela partilha e pela hospitalidade,
respeitando muito embora
ßos locais reservados à comunidade.

64 - Certamente imperfeitos, como todo o cristão,
queremos, no entanto, criar um ambiente
que promova o progresso espiritual de cada um.

Como consegui-lo,
a não ser aprofundando no Senhor
as nossas relações, mesmo as mais normais,
com cada um dos nossos irmãos?

A caridade deve ser uma esperança activa
daquilo que os outros podem vir a ser
com a ajuda do nosso apoio fraterno.

O sinal da sua autenticidade
será a simplicidade com que todos se esforçam
por compreender o que cada um tem a peito (cf. ET 39).

65 - Na comunhão, mesmo para além dos conflitos,
e no perdão recíproco quereríamos mostrar que a fraternidade
por que os homens anseiam
é possível em Jesus Cristo,
e dela quereríamos ser fiéis servidores.

66 - A vida comunitária exige que cada um
acolha os outros como realmente são,
com a sua personalidade e funções, c
om as suas iniciativas e limitações,
e que se deixe pôr em questão pelos irmãos.

67 - Estas exigências são a base de um verdadeiro diálogo,
no respeito mútuo, no amor fraterno,
na solidariedade e na corresponsabilidade.

Com tudo isto, a comunidade esforça-se
por dar testemunho de Cristo,
no nome do qual está reunida,
podendo, ao mesmo tempo, contribuir eficazmente
para a realiza-ção das pessoas que a constituem.

68 - No seio da comunidade, local e provincial,
procuramos rodear com amor de predilecção
os nossos irmãos doentes ou idosos.

É particularmente por meio deles
que o Senhor nos convida a um autêntico abandono
e nos recorda a fragilidade da nossa condição;
Ele deseja ser reconhecido e servido neles
de um modo muito especial (cf. Mt 25,40).

Estes irmãos, por sua vez, aceitarão os cuidados
que lhes são prodigalizados
como expressão da caridade de Cristo,
que pedia aos seus discípulos
aceitassem os seus humildes serviços (cf. Jo 13,8).

69 - A comunhão que nos une uns aos outros
encontra a sua plena realização na eternidade.
Estamos assim igualmente unidos
aos nossos irmãos defuntos
através da oração e na esperança.


c. Em comunidade de vida

70 - A organização da comunidade
é uma ajuda e um serviço para todos os membros.

Para realizar a sua função espiritual e apostólica
e de acordo com os Superiores maiores,
cada comunidade determina
as suas estruturas particulares
em função da sua finalidade específica.
Cada membro deverá empenhar-se em respeitá-las.

A comunidade deverá repensar a própria organização,
bem como o seu estilo de vida e reflectir regularmente sobre a sua missão,
em conformidade com o projecto comum da Congregação.

71 - O crescimento pessoal exige que cada um
tenha uma regra de vida pessoal.
O número re-duzido de regras comunitárias
reforça tal exigência,
em vista do bem de todos
e supõe que cada um procure promover
um clima de recolhimento,
nomeadamente pelo uso moderado
dos meios de comunicação social.

72 - O Superior terá o cuidado de dar
a todos os membros da comunidade
a possibilidade de agir pessoal e responsavelmente.

Para discernir melhor a vontade de Deus,
consultará a comunidade em diálogo fraterno.
Tomará as suas decisões
com prudência e sentido de responsabilidade.
Nos ca-sos pessoais,
saberá promover o diálogo com cada um.

73 - Por justas razões de ordem pastoral,
o Superior Provincial,
com o voto deliberativo do seu conselho
e conforme as orientações
dos Directórios Geral e Provincial,
pode constituir e organizar comunidades locais de zona.

Todos os membros de tais comunidades elaboram,
em conjunto e sob a orientação do responsável,
um projecto de vida comunitária
e estabelecem os meios para o realizar.

Mantêm os deveres para com a comunidade
e beneficiam do direito à ajuda fraterna
que deriva da profissão religiosa.

Cabe aos Superiores o cuidado de avaliar a autenticidade
da dimensão comunitária da sua vida religiosa.

74 - As comunidades, na diversidade das suas funções,
contribuem para a missão comum da sua Província.
As Províncias, por sua vez, contribuem
para a missão da Congregação.

75 - Em nome da solidariedade,
serão promovidos e estabelecidos
contactos e intercâmbio
entre as comunidades e entre as Províncias,
de cada comunidade com a sua Província
e de cada Província com toda a Congregação.

Este constante intercâmbio
é garantia de continuidade e de fidelidade,
indispensável ao dinamismo do conjunto.
Permite a reformulação da nossa missão
e a procura de uma inspiração comum,
condição de unidade.
Assegura de forma efectiva e eficaz
a nossa participação activa na obra comum.


d. Perseverantes na oração (Act 2,42)

76 - Reconhecemos que da oração assídua
dependem a fidelidade de cada um e das nossas comunidades,
bem como a fecundidade do nosso apostolado.

Cristo convida os seus discípulos,
sobretudo os seus amigos,
a perseverarem na oração:
queremos responder a este convite.

"Propôs-lhes Jesus ainda uma parábola,
para mostrar que é preciso orar sempre,
sem nunca desanimar..."
(Lc 18,1).

"Vigiai e orai,
para não cairdes em tentação"
(Mt 26,41).

77 - Escutamos com frequência a Palavra de Deus.
Contemplamos o amor de Cristo
nos mis-térios da sua vida e na vida dos homens;
sustentados pela nossa adesão a Ele,
unimo-nos à sua oblação pela salvação do mundo.

Podemos, assim, receber
um espírito de sabedoria e de revelação,
para descobrir e reconhecer verdadeiramente
a Cristo Senhor,
e bem assim a esperança a que fomos chamados (cf. Ef 1,17-18).

78 - Acolhendo o Espírito que reza em nós
e que vem
em socorro da nossa fraqueza (cf. Rom 8,26ss),
queremos louvar e adorar, em seu Filho, o Pai,
que cada dia realiza entre nós a sua obra de salvação
e nos confia o ministério da reconciliação (cf. 2Cor 5,18).

"O Espírito vem em ajuda da nossa fraqueza,
pois não sabemos o que de-vemos pedir"
(Rom 8,26).

"Todos os que são movidos pelo Espírito de Deus,
esses são filhos de Deus...
Recebestes o Espírito de adopção pelo qual clamamos - Abba, Pai"
(Rom 8,14-15).

Fazendo-nos progredir no conhecimento de Jesus,
a oração estreita os laços da nossa vida comum
e abre-a constantemente à sua missão.

79 - Como Jesus gostava de se entreter com o Pai,
também nós reservaremos
momentos de silêncio e de solidão
para nos deixarmos renovar na intimidade com Cristo
e nos unirmos ao seu amor pelos homens.

Sem espírito de oração,
esmorece a oração pessoal;
sem oração comunitária
definha a comunidade de fé.

De acordo com o apelo premente do Senhor à conversão,
procuramos discernir atentamente
o pecado nas nossas vidas;
teremos a peito celebrar frequentemente
o seu perdão no sacramento da reconciliação.

a. Cada comunidade terá o cuidado de determinar
os tempos e as formas da sua oração comum,
que exprimam o espírito da nossa vida religiosa
e nos façam participar na oração da Igreja,
sobretudo, através da liturgia
de Laudes e Vésperas.

b. Além disso, cada um deverá prever
o tempo suficiente de oração quotidiana,
conforme as orientações
do Directório Provincial
e a recomendação do Padre Fundador:

"Para viverdes a vida interior,
dedicareis todos os dias
uma boa meia hora à oração da manhã
e uma meia hora à adoração reparadora"
(Test. Esp.).

c. A comunidade submeterá ao Superior Maior
o programa da sua vida de ora-ção.

d. O Superior Provincial para a sua Província,
o Superior local para a sua co-munidade,
dão autorização para pregar aos nossos religiosos
nas igrejas e oratórios do Instituto.

e. Para publicações sobre questões de religião ou de moral,
para além da auto-rização do Ordinário do lugar,
requer-se a do Superior Provincial.

3. Fiéis à fracção do pão (Act 2,42)


80 - Toda a nossa vida cristã e religiosa
encontra a sua fonte e o seu ponto culminante
na Eu-caristia (cf. LG 11).

A celebração do Memorial
da morte e ressurreição do Senhor
constitui para nós
o momento privilegiado da nossa fé
e da nossa vocação de Sacerdotes do Coração de Jesus.

81 - Chamados a participar todos os dias
neste sacrifício da Nova Aliança,
unimo-nos à obla-ção perfeita
que Cristo oferece ao Pai,
para fazê-la nossa,
pelo sacrifício espiritual das nossas vidas.

"Exorto-vos, pois, irmãos,
pela misericórdia de Deus,
a que ofe-reçais os vossos corpos
como hóstia viva, santa e agradável a Deus:
tal é o culto espiritual que lhe deveis prestar"
(Rom 12,1).

Testamento do amor de Cristo
que se entrega para que a Igreja se realize na unidade e
assim anuncie a esperança ao mundo,
a Eucaristia reflecte-se em tudo o que somos e vivemos.

82 - Pela nossa celebração,
unidos a toda a Igreja
na memória e na presença do seu Senhor,
acolhemos Aquele que nos reúne em comunidade,
que nos consagra a Deus
e nos lança, incessantemente,
pelos caminhos do mundo ao serviço do Evangelho.

"Tomai: isto é o meu Corpo
que será entregue por
vós;
este cá-lice é a nova aliança no meu sangue.
Fazei isto em memória de Mim...
Todas as vezes, portanto,
que comerdes este pão e beberdes deste cálice,
anunciais a morte do Senhor até que Ele venha"
(1 Cor 11,24-26).

83 - Na adoração,
intimamente ligada à celebração eucarística,
meditamos nas riquezas desse mistério da nossa fé,
a fim de que a carne e o sangue de Cristo,
alimento de vida eterna,
transformem mais profundamente as nossas vidas.

"Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
tem a vida eterna
e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia.
Pois a minha carne é verdadeira comida
e o meu sangue é verdadeira bebida.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
permanece em Mim e Eu nele"
(Jo 6,54-56).

Correspondemos, assim, a uma exigência
da nossa vocação reparadora.
Na adoração eucarística,
queremos aprofundar a nossa união ao sacrifício de Cristo
para a recon-ciliação dos homens com Deus.

84 - O culto eucarístico torna-nos atentos
ao amor e à fidelidade do Senhor,
presentes no nos-so mundo.

Unidos à acção de graças e à intercessão de Cristo,
somos chamados a colocar toda a nossa vida
ao serviço da Aliança de Deus com o seu Povo
e a promover a unidade dos cristãos e de todos os homens.

"Porque há um único pão,
nós todos formamos um só corpo,
pois todos participamos desse único pão"
(1 Cor 10,17).

Queremos, deste modo, responder ao convite
de encontro e de comunhão que Cristo nos faz
por meio deste sinal privilegiado da sua presença.

4. Com a Virgem Maria


85 - Maria, Mãe de Jesus, está intimamente associada
à vida e obra redentora de seu Filho.
Mãe da Igreja, por sua intercessão maternal,
está presente junto daqueles que,
empenhados numa missão apostólica,
trabalham para a regeneração dos homens (cf. LG 65).

"Ela é a primeira entre os humildes e pobres do Senhor
que, confiantes, esperam
e recebem a salvação de Deus"
(LG 55).

Pelo seu Ecce ancilla,
estimula-nos à disponibilidade na fé:
é a imagem perfeita da nossa vida religiosa.

Procuraremos rezar-lhe e venerá-la,
segundo o espírito e as orientações da Igreja.

Sentimo-nos também mais intimamente unidos
aos santos que, de maneira mais evidente,
viveram a nossa vida de união ao Coração de Jesus.